O século XIX: guerra peninsular e guerra civil

A 20 de Maio de 1801 a divisão de vanguarda do Exército da Extremadura comandado por Manoel Godoy já está a caminho de Elvas para fazer nova guerra. A 24 de Maio as tropas do General Francisco Solano semeiam o terror em redor da cidade. Dentro da cidade não conseguiram entrar. Ela era defendida pelos Regimentos de Infantaria n.º 5 e 17 de Elvas, n.º 22 de Serpa, Regimento de Cavalaria n.º 8 e Regimento de Artilharia n.º 3 de Estremoz e era agora também com o Forte da Graça a fortaleza com maior poderio militar em todo o país com mais de 8000 homens, quase tantos como o exército que pretendia invadir Portugal. Godoy escreve uma missiva a D. Francisco Xavier de Noronha, governador da Praça de Elvas perguntando as intenções do militar português: resistir ou entregar-se.

O governador não se rendeu e o inimigo mostrou-se incapaz de assediar tamanho complexo de fortificações, preferindo atirar sobre Campo Maior. Quando Godoy se encontra com a rainha Maria Luísa de Espanha apresenta-lhe um pedido de desculpas por tal facto, oferecendo-lhe apenas uns ramos de laranjeira do jardim junto à muralha da cidade em vez das chaves da Praça de Elvas. Estava dado o nome à guerra que se seguia: a guerra das Laranjas.

No dia 1 de Dezembro de 1807 as tropas do General Solano, capitão-general da Andaluzia, entram de novo em Elvas e é no dia 11 de Março de 1808 que os franceses passam a governar a Praça Forte de Elvas. No dia 29 de Julho em Évora, tropas portuguesas e espanholas são chacinadas pelo General Loison, saqueando de seguida a cidade e chegando a Elvas a 3 de Agosto. Começa então o desembarque inglês em Lavos, junto a Figueira da Foz, travando-se depois as batalhas de Roliça e do Vimeiro com vitórias britânicas. Em Elvas, o general espanhol Galuzo estabelece uma bateria nos Murtais para atacar o Forte da Graça sem qualquer efeito. Apenas a chegada dos ingleses a 15 de Agosto permitiu a abertura do forte. Com a Convenção de Sintra assinada a 30 de Agosto terminou a primeira invasão francesa: os franceses regressariam a casa em segurança com o produto dos seus saques e a Inglaterra passava a dominar Lisboa sem necessidade de combater. Com a saída dos franceses, em Elvas estabelece-se então uma junta governativa chefiada pelo bispo da cidade . Os ingleses apenas sairiam da cidade em Janeiro de 1809 quando se assina um tratado de aliança anglo-espanhol.

Nos primeiros meses de 1810, observando-se o domínio francês em todo o sul de Espanha, em Elvas volta a preparar-se uma invasão. Fazem-se uma série de demolições de edifícios fora da Praça Forte que pudessem acolher o inimigo, mas são também construídos os fortins em redor da cidade: Fortim de São Mamede, Fortim de São Domingos e Fortim de São Pedro.

Na região de Elvas os combates só teriam lugar a partir de Janeiro de 1811. Soult, vindo da Andaluzia para ajudar Massena, ocupa Mérida e toma Olivença. No dia 26 põe cerco a Badajoz e ocupa a Herdade da Comenda, bem como parte do território da fronteira de Elvas e Campo Maior. Ao mesmo tempo que Soult consegue conquistar Badajoz, as tropas do marechal Mortier cercam Campo Maior. É no combate de Sabugal, a 3 de Abril, que Wellington vence finalmente Reynier e obriga Massena a retirar de Portugal, terminando a terceira invasão francesa. No dia seguinte o Marechal Beresford está em Elvas onde reúne tropas para atacar os franceses em Olivença e em Badajoz. De modo a ajudar as tropas francesas, Soult dirige-se para Badajoz mas é derrotado pelas forças inglesas, portuguesas e espanholas, comandadas por Beresford, na Batalha de La Albuera. Segue-se novo cerco a Badajoz com precioso auxílio de tropas e mantimentos de Elvas, com Wellington a estabelecer o seu quartel-general no Monte da Gramicha.

Os meses seguintes significam meses de várias escaramuças ao longo da linha do Guadiana até que, em Março, Badajoz é cercada pela terceira vez pelas tropas de Wellington. Entre 6 e 9 de Abril de 1812 a infantaria anglo-portuguesa consegue finalmente entrar na cidade saqueando-a e prendendo o governador da cidade, o francês Armand Philippon, em Elvas. No final do ano de 1813 os franceses estavam fora da península.

No final da guerra, porque os oficiais ingleses protestantes não podiam ser sepultados nas igrejas católicas, é construído em Elvas o Cemitério dos Ingleses, para o qual é escolhido o Baluarte da Corujeira.

Segue-se o período do liberalismo e as guerras civis entre liberais e absolutistas. Influenciada por uma opinião pública formada pela igreja e pelos militares, Elvas é um bastião absolutista. Por isso mesmo segue-se um período de algum declínio na cidade. Com a cidade claramente a apoiar o partido absolutista durante a guerra civil, o governo português não podia mais deixar que Elvas fosse um importante centro de poder, pois tamanha fortificação com uma grande concentração de militares poderia ser um foco de criação de uma nova revolta contra o liberalismo. Não mais foi nomeado outro Bispo de Elvas, ficando a sede vacante até ao seu final, e na hora da criação dos distritos a lei de 25 de Abril de 1835 coloca a sede distrital em Portalegre, uma cidade muito mais pequena que Elvas, mas em contrapartida muito mais fiel.

Por outro lado, verifica-se também uma grande diminuição no contingente militar na cidade e são extintas as ordens religiosas, levando ao abandono de alguns conventos. Se a opinião pública elvense era desfavorável ao novo governo, pior ficou.

No final do ano de 1840 o governo português nomeia um governador da praça de Elvas para acabar com o espírito de revolta: Sá da Bandeira.

A segunda metade é marcada pelo sucesso da indústria das Ameixas de Elvas, doce conventual e típico da cidade, mas também pelo incremento do comércio e pelo surgimento de uma camada intelectual da população.

Para esta nova realidade muito contribuiu a melhoria das vias de comunicação, conseguida com a construção da Estrada Real para Lisboa, terminada em 1857, e com a estação de caminhos-de-ferro, inaugurada a 27 de Junho de 1863.

Esta é a época da criação da Biblioteca Municipal de Elvas (1880), do nascimento de múltiplos jornais na cidade, muitas vezes implementados por diversos intelectuais ligados aos partidos políticos e ao associativismo de então: Torres de Carvalho, Vitorino d’Almada, Tomás Pires, Silva Matta, Augusto César de Vasconcellos Massano, Herculano do Couto, entre muitos outros.